Ajuruteua: explorando os sabores e a cultura da Vila dos Pescadores

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Uma experiência gastronômica, turística e social na Vila dos Pescadores de Ajuruteua, Bragança (Pará)
Foto: Mário Costa.

O mês de julho já está aí e com ele o verão amazônico e, para alguns, as férias escolares. Este é o período ideal para dar aquela relaxada em rios, balneários, igarapés, praias de água doce e salgada. Falando em água salgada, o Pará oferece diversas opções de praias banhadas pelo Oceano Atlântico. Um desses recantos é a Vila dos Pescadores da praia de Ajuruteua, distante a cerca de 50 minutos de carro, via PA-458, da cidade de Bragança, no nordeste do estado. Lá é possível ter uma experiência turístico-gastronômica que combina trilhas por áreas de mangue, passeios de barco e vivências diretas com a cultura pesqueira local, com idas aos ranchos, currais de pesca e degustação do verdadeiro avuado de peixes da região, além do caranguejo. É uma excelente oportunidade para turistas terem uma verdadeira imersão na vida dos pescadores.

A jornada inicia pela trilha na área de mangue, guiados por John Gomes, coordenador do projeto ‘Mangues da Amazônia’. A iniciativa visa conservar este importante ecossistema através do reflorestamento, da pesquisa técnico-científica e da educação ambiental, e neste dia realizava, em parceria com empresários locais, ação educativa com um grupo de turistas e crianças da cidade de Tracuateua, com idades entre 4 anos e 8 anos. O grupo conheceu a vegetação característica dos mangues, os pássaros nativos, e o ponto alto da ação: a retirada de turu dos troncos de árvores caídas. Também conhecido como “cupim do mar”, o turu é uma espécie de molusco esbranquiçado e uma iguaria muito apreciada na culinária da região, em sua forma natural ou em caldos acompanhado de limão e pimenta.

John Gomes explica que o objetivo da atividade é mostrar aos turistas e à comunidade local a importância de preservação de ecossistemas de mangues, praias e oceanos. “Dessa forma, eles terão ciência de que, com o manguezal preservado, eles vão ter o caranguejo na mesa, vão ter a ostra e o peixe. Então é nesse sentido que o projeto trabalha desde a criança até o adulto”, explica.

O coordenador destaca ainda que, através dessas ações, as pessoas são sensibilizadas para o cuidado com essas áreas já que, segundo ele, “80% dos manguezais do Brasil estão na Amazônia, somando os manguezais do Pará, Amapá e Maranhão. Só do Pará até o Maranhão, temos a maior faixa contínua de manguezal do mundo; cerca de 7.200 km² de manguezal. É a segunda maior faixa contínua de manguezal do mundo”.

Acompanhando a pequena Mayara Paola, de 5 anos, a mãe dela, Silvana Souza, 25 anos, conta que adorou o passeio, aprendeu muito com as explicações e com tudo o que viu. “Os mangues são nossa fonte de vida, é onde tudo começa. Aprender desde pequeno a respeitar esse lugar e suas criaturas é a certeza de ter um futuro garantido”, vibra a mãe ao lado da menina visivelmente feliz depois de tirar turu do tronco.

A aventura continua num barco, navegando pelo Oceano Atlântico, ao encontro do rancho dos pescadores. Guiados pelo jovem pescador Alexsandro Brito da Silva, 24 anos, que nos apresenta à beleza exuberante da região, onde a flora e a fauna formam um ecossistema vibrante, chegamos até o Furo do Maguari. Lá, encontramos estruturas altas feitas em madeira, são os ranchos dos pescadores, locais que servem para o descanso depois de um dia de pesca e preparo para o próximo. Nessas estruturas simples, também são compartilhadas boas histórias de pescador e preparadas refeições tradicionais como caranguejo e avuado.

“A parte mais importante é mostrar o rancho do pescador, porque ali eu tô falando sobre o meu trabalho, o meu orgulho e sobre o resgate da pesca artesanal, que é muito importante hoje em dia falar sobre porque com o avanço da modernidade isso tá se perdendo do ramo pesqueiro”, reforça o pescador Alex, como gosta de ser chamado.

Ele defende a pesca artesanal e os costumes tradicionais dos pescadores, “é uma sensação incrível por que eu tô falando ali as coisas que tem aqui na Vila dos Pescadores, que são coisas que eu admiro bastante, que é a minha Amazônia azul. E eu sendo pescador gosto muito de falar sobre a pesca que pra mim é muito importante”.

Na sequência, o grupo segue até o curral de pesca, num banco de areia que a maré baixa permite alcançar em pouco mais de 15 minutos. “Aqui, nós temos técnicas que usamos há gerações. Na maré alta, os peixes entram e ficam presos nas redes esticadas em troncos finos. Tudo é feito de forma artesanal e com respeito à natureza, respeitar o ambiente é cuidar do nosso futuro. Cada um de nós tem o seu papel na natureza”, enfatiza Alex.

A experiência finaliza com uma autêntica refeição para os visitantes, em um rancho restaurante flutuante, onde o avuado, um prato típico da região, feito com peixe fresco e temperos locais, e assado na brasa, é servido junto ao saboroso caranguejo, acompanhados de vinagrete e da famosa farinha de Bragança. O chefe do restaurante local, Zezinho Araújo, 52 anos, compartilha sua sabedoria culinária:

“Cozinhar aqui é uma arte. Usamos ingredientes frescos e valorizamos a culinária tradicional. O segredo está em saber respeitar o tempero natural dos alimentos”, revela Zezinho, que oferece aos turistas pratos variados, evidenciando a rica gastronomia da região do Caeté incluindo alguns premiados.

Zezinho reforça que a atividade turística é essencial para o desenvolvimento da Vila dos Pescadores. “O turismo traz turistas do mundo todo que querem vivenciar esse momento, comer à beira da praia, conhecer nossa cultura. Por isso, todos os funcionários que trabalham aqui são da comunidade e capacitados para atender as pessoas. Comparamos o peixe dos pescadores, os moradores tem emprego, a economia circula, o turista é convidado a conhecer, preservar e retornar” finaliza o chefe.

A experiência não é apenas sobre o sabor, é também uma oportunidade para o desenvolvimento do turismo na região. A secretária de Turismo de Bragança, Mel Oliveira, 36 anos, destaca a importância de iniciativas como essa para o fortalecimento da economia local.

“Nosso objetivo é valorizar a cultura local e promover um turismo sustentável. Ao integrar os turistas à vida dos pescadores, estamos garantindo que essa tradição não se perca e que a oportunidade de aprender e degustar o que a natureza oferece esteja sempre presente”, afirma Mel, evidenciando o papel fundamental do turismo na preservação cultural e ambiental.

Ao final do passeio, os visitantes não levam apenas lembranças das belezas naturais de Bragança, mas também a experiência de uma vida comunitária rica e cheia de sabores, marcada pela simplicidade e riqueza cultural da Vila dos Pescadores. Em cada conversa, em cada prato servido, fica evidente que o turismo vai além da pura diversão,é uma ponte para a compreensão e valorização da vida local.