Cultura Rede de Comunicação e TCE realizam evento pioneiro sobre letramento racial no Pará
Parceria da Cultura com o Tribunal de Contas do Estado promoveu a formação de comunicadores para o combate ao racismo estrutural.

A Cultura Rede de Comunicação recebeu, em seu espaço de convivência, a primeira palestra sobre os “Fundamentos do Letramento Racial”, ministrada por duas referências nacionais no tema: a Dra. Sandra Lurine e a Dra. Zélia Amador de Deus.
A iniciativa foi realizada em parceria com o Tribunal de Contas do Estado (TCE), marcando um avanço no compromisso institucional com a promoção da equidade racial e a formação de comunicadores comprometidos com a justiça social.
Segundo o presidente da Cultura Rede de Comunicação, Miro Sanova, a TV, Rádio e Portal Cultura tem muito interesse em promover esse debate. “A Cultura está à disposição para ajudar a fomentar, divulgar e mostrar esse trabalho para a sociedade do estado e do país. Recebemos colaboradores e comunicadores para essa primeira palestra e nos tornamos pioneiros nesse diálogo. Seguimos firmes na construção de um ambiente mais justo e inclusivo e por mais ações como essa”, comentou.
A palestra reuniu jornalistas, apresentadores, produtores, gestores públicos e educadores para um momento de escuta e aprendizado. Entre os participantes, estava a apresentadora do programa Sem Censura Pará e Diretora de Comunicação Comunitária e Cidadania, Vanessa Vasconcelos, que celebrou a importância do evento, explicando que esta formação é muito necessária para os comunicadores de uma rede pública e educativa.“Me senti privilegiada em participar desse momento, numa parceria da Rede Cultura de Comunicação com o Tribunal de Contas do Estado. É nosso papel estarmos alinhados nesse combate ao racismo, principalmente o estrutural. Na condição de mulher preta, lembro dos meus tempos primórdios na Cultura, nos anos 90, quando fui considerada por muitos a primeira ‘pretinha’ da televisão paraense. São 30 anos dedicados à comunicação na Amazônia. Vejo esse letramento como mais uma ferramenta necessária para o nosso trabalho, que tem muita responsabilidade social”.
O que é letramento racial?
O letramento racial é um processo pedagógico contínuo que visa conscientizar indivíduos sobre a estrutura e o funcionamento do racismo na sociedade. O objetivo é desenvolver a capacidade de reconhecer, criticar e combater atitudes e práticas racistas no cotidiano.
Durante a palestra, a Dra. Sandra Lurine explicou o conceito de letramento racial, abordando com dados como o racismo ocorre no Brasil e tem uma dimensão estrutural em nossa sociedade. “O letramento racial é uma ferramenta que nos permite fazer a leitura da sociedade e identificar o racismo, assim como o letramento convencional nos ensina a ler e escrever. Ele revela os mecanismos sociais muitas vezes invisíveis”, explicou.
O evento contou também com a presença da professora, ativista e liderança histórica do movimento de mulheres negras e do movimento negro da Amazônia, Zélia Amador de Deus. Ela, que é professora emérita da Universidade Federal do Pará (UFPA) e uma das fundadoras do Centro de Estudos e de Defesa do Negro no Pará (CEDENPA), ressaltou a importância do letramento racial e da responsabilidade da mídia e dos comunicadores no processo de representação das pessoas negras na sociedade. “É de fundamental importância que as pessoas que trabalham com comunicação tenham um letramento racial da sociedade para que possam fazer um trabalho eficiente. E a gente não pode combater o racismo só com palavras. A gente tem que combater o racismo com ações. E as políticas de ação afirmativa são importantíssimas na construção de uma sociedade justa”.
Dados que evidenciam desigualdades históricas
Durante o evento, dados gráficos foram exibidos, trazendo um panorama claro sobre o impacto do racismo estrutural no Brasil:
- Negros representam 56% da população brasileira, mas ocupam menos de 30% dos cargos de liderança em empresas (IBGE).
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A cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado no Brasil.
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Pessoas negras ganham, em média, 40% menos do que pessoas brancas em funções semelhantes.
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Apenas 4,7% dos CEOs das 500 maiores empresas brasileiras são negros.
Esses números reforçam a urgência de ações educativas, afirmativas e estruturais para combater a desigualdade racial no país.
Um marco para as políticas públicas de fortalecimento da comunicação antirracista no Pará
A realização da palestra representa um mais um marco para a consolidação de uma comunicação de inclusão racial no estado do Pará. Além de impactar os profissionais da área, a ação propõe um novo modelo de formação institucional, onde o letramento racial passa a ser ferramenta indispensável para qualquer agente público ou comunicador.
Segundo Mário Augusto, diretor de Diversidade da Secretaria de Educação do Pará (Seduc), esse momento é importante porque compõe as políticas públicas de enfrentamento ao racismo. “É muito importante que nós tenhamos movimentos e momentos como esse, pois estamos construindo, no Pará, uma rede de apoio e enfrentamento ao racismo. É importante que haja, em todas as instituições públicas e privadas, ações de acolhimento às vítimas de racismo e de letramento para prevenção e combate a essa questão que ainda persiste em nosso país”, explicou.
A parceria entre a Cultura Rede de Comunicação e o TCE mostra como diferentes instituições podem atuar de forma integrada, promovendo formação, representatividade e transformação social por meio da conscientização, do pensamento crítico e da comunicação.