Imagem peregrina do Glorioso São Sebastião é recebida pela primeira vez na Academia Paraense de Letras

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A Academia Paraense de Letras (APL) viveu um momento histórico na noite desta terça-feira (27), ao receber pela primeira vez, em seus 125 anos de existência, a peregrinação do Glorioso São Sebastião, de Cachoeira do Arari. A celebração ocorreu das 18h às 20h, reunindo acadêmicos, devotos, representantes culturais e religiosos, em uma noite que uniu fé, cultura e literatura.

Foto: Reprodução
Fotos: reprodução TV Cultura do Pará

A peregrinação da imagem peregrina, acompanhada dos tradicionais foliões marajoaras, é realizada em Belém desde 2001 como parte das ações de salvaguarda reconhecidas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que registrou as Festividades do Glorioso São Sebastião no Arquipélago do Marajó como Patrimônio Cultural do Brasil, em 2013. O registro está atualmente em processo de revalidação.

Durante a solenidade, o presidente da APL, Ivanildo Alves, destacou a importância simbólica do acolhimento da peregrinação em um espaço literário e acadêmico, ressaltando a presença do santo na cultura e na literatura paraenses.

“Aqueles que amam a cultura do Pará e que têm apreço pela literatura reconhecem que o Glorioso São Sebastião, que já tem longa vivência, inclusive caminha nas páginas do grande Dalcídio Jurandir. É um dos personagens que aparecem vivos nas obras do escritor paraense”, afirmou.

Devoção marajoara: tradição secular que resiste e se reinventa

A festa dedicada ao santo em Cachoeira do Arari remonta ao século XVIII, quando missionários jesuítas e mercedários, ao chegarem ao Marajó em 1747, encontraram comunidades que já realizavam a celebração. Com o passar do tempo, formaram grupos de leigos, conhecidos como foliões, que percorriam os campos do arquipélago cantando folias e rezando ladainhas — tradição que se mantém viva até hoje.

Foto: Reprodução
Fotos: reprodução TV Cultura do Pará

Em Cachoeira do Arari, a festividade ocorre entre os dias 10 e 20 de janeiro, mas as peregrinações começam meses antes, em julho, quando a imagem do santo passa a visitar diversas localidades do Marajó, consolidando um ciclo religioso e cultural único.

Franssinete Florenzano, ocupante da cadeira 29 da APL e diretora da biblioteca da instituição, ressaltou a importância do acolhimento da manifestação religiosa na sede da Academia, como forma de valorizar as expressões culturais oriundas do interior do estado.

“A Academia Paraense de Letras tem o dever de acolher essas manifestações, principalmente do interior, porque o interior sempre teve pouco espaço. Merece ter toda a sua relevância explicitada pelos acadêmicos”, pontuou.

A devoção ao Glorioso São Sebastião está presente em todos os municípios marajoaras, mas em Cachoeira do Arari possui características próprias, que expressam a singularidade e a diversidade cultural da região.

Para Albertinho Leão, presidente da Irmandade de São Sebastião, a continuidade da tradição reforça o papel da devoção como elemento de identidade e resistência cultural:

“A devoção ao São Sebastião nos campos, até hoje, continua existindo. Se hoje não tem o significado que tinha há mais de 200 anos, de aproximação dos colonizadores com a população nativa, hoje ela tem uma identidade cultural muito importante, uma relação afetiva”, destacou.

Reconhecimento e preservação

As Festividades do Glorioso São Sebastião foram registradas como Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial do Estado do Pará e também pelo Iphan como Patrimônio Cultural do Brasil, após um processo que contou com o protagonismo do Museu do Marajó e da Irmandade de Cachoeira do Arari, além do apoio de outros municípios do arquipélago.

Foto: Reprodução
Fotos: reprodução TV Cultura do Pará

Em Cachoeira do Arari, a festividade é um evento que movimenta não apenas a fé, mas também a economia e a cultura local, com procissões, ladainhas, danças nos barracões, levantamento do mastro, arraiais e eventos esportivos, como a tradicional luta marajoara.

O acolhimento da peregrinação pela APL amplia ainda mais o alcance e o reconhecimento desta manifestação secular, que até o dia 8 de junho seguirá visitando lares familiares e instituições públicas na capital paraense.

 

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