Programa idealizado por Jorge Mario Bergoglio promoveu o diálogo inter-religioso e antecipou o estilo comunicacional que marcaria seu pontificado.
Muito antes de ser eleito pontífice, Jorge Mario Bergoglio já demonstrava forte vocação para o diálogo e a comunicação. Quando ainda atuava como arcebispo de Buenos Aires, o futuro Papa Francisco idealizou o canal Orbe 21, da Arquidiocese da capital argentina, e protagonizou um feito inédito para a Igreja Católica: tornou-se o primeiro papa a apresentar um programa de televisão.
O programa, intitulado Bíblia – Diálogo Vigente, ganhou destaque ao reunir representantes de diferentes tradições religiosas para conversas abertas e profundas sobre temas universais. Ao lado do pastor protestante Marcelo Figueroa e do rabino Abraham Skorka, Bergoglio debatia questões como justiça, amor, inclusão, educação, meio ambiente, fé e perdão, sempre à luz das escrituras.
O formato era simples, mas eficaz: episódios com cerca de uma hora de duração, cenário discreto, trilha sonora suave e uma conversa em tom intimista. A proposta central era promover a escuta e o respeito entre diferentes crenças, reforçando a importância da convivência plural em uma sociedade cada vez mais diversa. O conteúdo rapidamente conquistou o público argentino e extrapolou as telas, gerando reflexões que ecoaram além do universo religioso.
Bíblia – Diálogo Vigente também foi um prenúncio do conceito que Francisco levaria adiante em seu pontificado: a “cultura do encontro”. Defendida ao longo de toda sua atuação como líder da Igreja, essa abordagem valoriza a escuta ativa, o diálogo empático e a busca por pontes, mesmo em tempos de polarização.
A série foi reconhecida com o Martín Fierro honorífico, uma das maiores premiações da televisão argentina, e segue disponível em uma playlist no YouTube, com todos os episódios em espanhol. Mesmo anos após sua exibição original, o programa permanece atual e relevante, especialmente em um cenário global marcado por intolerâncias e rupturas.
Com a morte de Francisco, Bíblia – Diálogo Vigente ganha ainda mais valor como registro histórico e testemunho de um estilo de comunicação comprometido com a paz e a compreensão mútua. Sua presença na televisão, marcada pela simplicidade e profundidade, antecipava a postura que o tornaria uma das vozes mais influentes da contemporaneidade.
O legado de Francisco como comunicador vai além do púlpito e das redes sociais: começa nas bases, onde a palavra se torna encontro. Seu exemplo permanece vivo para todos que acreditam na comunicação como ferramenta de transformação social.
