Preta Gil: voz, coragem e resistência que ficam para sempre

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Foto: Redes Sociais.

O Brasil se despediu de Preta Gil, mas sua história permanece viva em cada gesto de resistência, em cada verso cantado com verdade, em cada bandeira levantada com coragem. Artista multifacetada, mulher negra, ativista incansável e figura central na luta por diversidade e inclusão, Preta Gil construiu uma trajetória que vai muito além da música — e é justamente esse legado que a eterniza.

Preta Gil partiu aos 50 anos, após uma intensa batalha contra um câncer colorretal. A artista faleceu nos Estados Unidos, onde estava em tratamento desde maio de 2025, em uma tentativa de acessar recursos médicos mais avançados e buscar alternativas terapêuticas ainda experimentais — não disponíveis no Brasil, onde já não havia mais opções dentro dos tratamentos testados e autorizados. O tratamento no exterior foi mantido com o apoio da família, amigos e uma rede de afeto que sempre a acompanhou de perto. Como em toda sua trajetória, Preta enfrentou a doença com coragem, dignidade e transparência — dividindo cada etapa com seus fãs e seguidores de forma humana e acolhedora.

Filha de Gilberto Gil, Preta nasceu cercada de arte, mas nunca se limitou a ser apenas “a filha de um ícone”. Fez da própria voz um instrumento de identidade e enfrentamento. Seu nome, sua imagem, seu corpo e suas escolhas foram, muitas vezes, alvo de julgamentos. Ainda assim, escolheu ser inteira. Escolheu ser livre.

Ao longo de mais de duas décadas de carreira, transitou entre ritmos e estilos com autenticidade, do pop ao samba, do axé às baladas românticas. Seus shows sempre foram espaços de celebração da diversidade — coloridos, afetivos e politizados. Preta não se esquivava de se posicionar, e foi justamente essa postura que a transformou em símbolo de resistência.

Falou abertamente sobre o racismo, sobre o machismo, sobre os estigmas impostos aos corpos fora do padrão. Foi uma das primeiras artistas brasileiras a enfrentar de frente o preconceito por ser uma mulher gorda, negra e sexualmente livre — e fez disso um ato político. Sua coragem abriu portas e inspirou gerações.

Também foi uma voz ativa na luta pelos direitos da população LGBTQIA+. Aliada incondicional, usava sua visibilidade para amplificar causas, apoiar movimentos e proteger pessoas em situação de vulnerabilidade. Sua presença em manifestações, campanhas e eventos voltados à igualdade de direitos não era ocasional — era compromisso.

Nos últimos anos, Preta enfrentou o câncer com a mesma força que marcou toda a sua vida pública. Expôs sua luta de maneira franca, generosa e comovente. Transformou dor em acolhimento, medo em rede de apoio. Sua postura frente à doença inspirou debates sobre autocuidado, acesso à saúde e empatia.

Preta Gil deixa este mundo fisicamente, mas sua presença permanece em muitas frentes: na música brasileira, na arte que produziu, nas vozes que encorajou, nas causas que defendeu, nos corpos que libertou.

Sua partida não silencia sua luta. Pelo contrário: a transforma em legado.