Queda na vacinação infantil põe em risco a vida de milhões de crianças no mundo, diz estudo
Pesquisa publicada na revista científica The Lancet alerta para as consequências da diminuição da cobertura vacinal infantil observada desde o ano de 2010.

A vacinação de crianças contra doenças graves está diminuindo em todo o mundo desde o ano de 2010. Isso se deve a fatores como o aumento das desigualdades econômicas, às interrupções na vacinação devido à pandemia de Covid-19 e, também, por conta da desinformação sobre os efeitos das vacinas. O alerta vem de um estudo publicado nesta quarta-feira (25) na revista científica The Lancet.
A pesquisa analisou as coberturas vacinais em 204 países e territórios e observou que a taxa de imunização contra o sarampo, por exemplo, diminuiu em 100 dos 204 países entre 2010 e 2019. Por outro lado, em 21 dos 36 países de alta renda observou-se quedas na cobertura contra difteria, tétano, coqueluche, sarampo, poliomielite e tuberculose.
Na União Europeia, por exemplo, foi registrado quase dez vezes mais casos de sarampo em 2024 do que em 2023. Já nos Estados Unidos, apenas no último mês de maio, o número de registros confirmados de sarampo (mais de mil casos), ultrapassou as ocorrências verificadas da doença em 2024.
Outra preocupação é com o crescente número de casos de poliomielite, doença grave e por vezes mortal, que pode causar paralisia irreversível. Há muito tempo erradicada em várias partes do planeta devido à vacinação, a pólio agora vem registrando ocorrências no Paquistão e no Afeganistão, enquanto Papua-Nova Guiné enfrenta uma epidemia da doença.
Essas tendências aumentam as ameaças para a ocorrência de futuros surtos de enfermidades que podem ser evitadas através da vacinação. Além disso, os cortes na ajuda internacional comprometem o progresso obtido anteriormente na imunização das crianças no mundo, dizem os pesquisadores.
Segundo Jonathan Mosser, autor principal do estudo e membro do Instituto de Métrica e Avaliação de Saúde (IHME), a vacinação infantil de rotina é uma das medidas de saúde pública mais poderosas e econômicas. Contudo, as persistentes desigualdades globais, os desafios da pandemia de covid-19, as crescentes quantidades de pessoas deslocadas de seus países, as guerras, as mudanças climáticas e o crescimento da desinformação e da hesitação em relação às vacinas têm contribuído para o cenário de estagnação do progresso na imunização, disse.
Os autores do estudo destacam, ainda, que esses retrocessos podem ameaçar a meta da Organização Mundial da Saúde (OMS) de imunizar 90% das crianças e adolescentes em todo o mundo até 2030 com as vacinas consideradas essenciais. Para fazer frente ao problema, os pesquisadores recomendam que todos os países invistam no fortalecimento da Atenção Primária à Saúde.